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Capítulo 3 de 14

1Tobit, então, suspirando em meio de suas lágrimas, pôs-se a orar:

2“Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de equidade e vossa conduta é toda misericórdia, verdade e justiça.

3Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me cas­tigueis por meus pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de meus antepassados.

4Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte e se nos temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais nos dispersastes, é porque não obedecemos às vossas leis.

5Agora os vossos castigos são grandes, porque não procedemos segundo os vossos preceitos e temos sido leais para convosco.

6Tratai-me, pois, ó Senhor, como vos aprouver; mas recebei a minha alma em paz, porque me é melhor morrer que viver”.

7Aconteceu que, precisamente naquele dia, Sara, filha de Raguel, em Ecbátana, na Média, teve também de suportar os ultrajes de uma serva de seu pai.

8Ela tinha sido dada sucessivamente a sete maridos. Mas logo que eles se aproximavam dela, um demônio chamado Asmodeu os matava.*

9Tendo Sara repreendido a jovem criada por alguma falta, esta respondeu-lhe: “Não vejamos jamais filho nem filha nascidos de ti sobre a terra! Foste tu que assassinaste os teus maridos.

10Queres, porventura, matar-me, como mataste todos os sete?”. Ouvindo isso, Sara subiu ao seu quarto e lá ficou três dias completos, sem comer nem beber.

11E, orando com fervor, ela suplicava a Deus, chorando, que a livrasse dessa humilhação.

12Ao terceiro dia, acabou sua oração, bendizendo o Senhor desta forma:

13“Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois de vos irardes, usais de misericórdia e no meio da tribulação perdoais os pecados aos que vos invocam.

14Volto-me para vós, ó Senhor, para vós levanto os meus olhos.

15Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então que me tireis de sobre a terra!

16Vós sabeis que eu nunca desejei homem algum e que guardei minha alma pura de todo o mau desejo.

17Nunca frequentei lugares de prazer nem tive comércio com pessoas levianas.

18E se consenti em casar-me, foi por vosso temor e não por paixão.

19Foi, sem dúvida, porque eu não era digna deles; ou, talvez, não eram eles dignos de mim; ou, então, me destinastes a outro homem.

20Não está nas mãos do homem penetrar os vossos desígnios.

21Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação e que, se houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia.

22Porque vós não vos comprazeis em nossa perda: após a tempestade, mandais a bonança; depois das lágrimas e dos gemidos, derramais a alegria.

23Ó Deus de Israel, que o vosso nome seja eternamente bendito!”.

24Essas duas orações foram ouvidas ao mesmo tempo, diante da glória do Deus Altíssimo;

25e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.*